Archive for Novembro, 2006


O bom – ou mau, depende do ponto de vista – das releituras é que os livros adquirem outra dimensão e a leitura torna-se mais crítica. Passada que é a vontade de conhecer a trama o leitor foca a atenção nos maneirismos de escrita, nas várias vozes do autor e na estrutura geral dos romances. Por vezes aquilo que parecia perto duma obra-prima revela-se afinal ter apenas um bonito papel de embrulho mas muito pouca substância. Não será assim com todos os livros – ainda hoje o Dune me surpreende a cada releitura e continuo a deleitar-me com a série do Mundo do Rio – mas infelizmente assim sucedeu com Hyperion e The Fall of Hyperion de Dan Simmons.

Hyperion, editado originalmente em 1990 foi vencedor do prémio Hugo para melhor romance desse ano e é o típico romance que estabelece as personagens e monta o palco para o denouement do segundo volume. Não é à toa que mais de metade de Hyperion é devotada às histórias de cada um dos peregrinos na última peregrinação ao Vale dos Túmulos no planeta Hyperion. Esta estrutura confere ao romance um tom episódico e é em grande parte responsável pelo maior interesse que este volume tem em comparação com o subsequente que opta por uma estrutura mais tradicional de space opera com enormes batalhas estelares travadas entre forças sem face usando armas para além da compreensão humana.

The Fall of Hyperion é o atar das pontas soltas deixadas ao longo de Hyperion e novamente noto que Dan Simmons peca por manter o suspense e os enigmas demasiado tempo sem resolução optando por um clímax algo apressado e que se despacha em três ou quatro capítulos seguindo-se uma vintena de páginas de resolução que pouco ou nada acrescentam.

Como já vai sendo habitual nos megavolumes de autores consagrados a edição é praticamente inexistente. Pequenos pormenores distraíram-me arrancando-me da sempre tão necessária suspensão da descrença vital para romances de FC. É o caso de ao longo de vários capítulos Sol Weintraub alimentar a sua filha com «the last of the nursing paks» ou Paul Duré que sustém queimaduras de segundo grau num capítulo sendo que alguns adiante já são de terceiro grau.

A igreja cultista dos Últimos Dias, também conhecida como Culto do Shrike escolhe sete peregrinos para regressarem ao planeta Hyperion e embarcarem na última peregrinação ao Vale dos Túmulos onde misteriosos artefactos que viajam para trás no tempo estão prestes a abrir-se. Cada um dos peregrinos tem a sua secreta agenda que o motiva a visitar novamente o planeta Hyperion, que embora não pertencendo à vasta rede da Hegemonia Humana está em vias de ser integrado na mesma. Esta integração, no entanto, fará despoletar um ataque dos Ousters, pós-humanos mutantes que vivem em Enxames que vagueiam na periferia da galáxia conhecida.

A ligar todos estes mundos estão os farcasters, portais de teletransporte cedidos pelo TechnoCore, um aglomerado de Inteligências Artificiais que aparentemente também têm a sua agenda secreta no que concerne a Hyperion.

É no meio de traições, desaparecimentos misteriosos, assassinatos a cíbridos, uma espécie de ciborgue, que reencarnam a essência do poeta John Keats (não é de estranhar que a personagem com o ponto de vista dum narrador omnisciente seja uma reconstrução elaborada do referido poeta tendo em conta que foi o inacabado poema dele que sugeriu o nome ao planeta), a sempre presente ameaça do Shrike e os dilemas postos perante um pai, que vamos vendo o desenrolar duma vasta tapeçaria que envolve todo um império de hedonistas humanos à beira do colapso iminente.

Factos que pareciam cruciais em Hyperion revelam-se Maguffins literários em The Fall of Hyperion o que pode ser uma espada de dois gumes dependendo da tolerância do leitor para ser deliberadamente «enganado» pelo autor. Nesta releitura essa tolerância estava no grau zero pelo que me irritou profundamente a manipulação autorial com argumentos que, mais bem trabalhados poderiam, em última análise, terem sido mais eficazes.

Outro ponto que não me satisfez por completo e que muitas das vezes são armadilhas para os autores que colocam os enredos em futuros distantes foram as constantes referências a elementos da cultura popular do século XX. Custa-me a crer que duas personagens conhecessem tão prontamente o tema musical “Somewhere Over the Rainbow”, quando mesmo hoje em dia poucos são os que ouvem esse tema. Além disso Meina Gladstone, CEO da Hegemonia, baseia os seus discursos em políticos como Churchill. Será que em tantos milhares de anos não houve outras fontes mais recentes em que basear os apelos retóricos. Mas concedo que este problema não é particular a Dan Simmons e por bastantes vezes já li outros autores que caem na mesma armadilha ao procurarem referenciais familiares aos leitores.

Ao que me consta Hyperion chegou a ser traduzido para português para uma publicação que até hoje nunca viu a luz do dia. Foi pena que tal não acontecesse há pelo menos dez anos atrás tendo em conta que hoje em dia e dada a multiplicidade de novos romances da chamada new space opera, Hyperion perdeu muita da frescura que trazia e poderá até parecer algo retro nas ideias políticas defendidas amiúde pelo seu autor que não consegue deixar de transparecer uma certa animosidade para com as culturas muçulmanas.

Pesem embora os defeitos aparentes e não tão aparentes destas duas obras e mais que não seja numa perspectiva histórica (afinal foi com estes romances que se iniciou em parte a renascença do fenómeno space opera) recomendo a sua leitura para quem tenha um pouco de interesse em romances de FC na linha de um Dune ou duma série Fundação, salvaguardando as devidas e respeitosas distâncias.

Se no entanto prefere ocupar o seu tempo com algo mais moderno recomendo os mais recentes romances de Alastair Reynolds que conseguem ser tudo aquilo que Hyperion deveria ter sido e mais ainda.


O mais recente filme de Alejandro Gonzalez Inarritu, Babel, conta com interpretações de Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal.

Nas remotas areias do deserto marroquino um tiro de espingarda vai detonar uma sequência de eventos que ligarão um casal de turistas norte-americano a dois rapazes marroquinos, uma ama a atravessar ilegalmente a fronteira mexicana e uma adolescente japonesa rebelde cujo pai é procurado pela polícia de Tóquio.

Com a intensidade de 21 Grams ainda presente na memória é com renovado prazer que revejo o trailer deste promissor filme.

Com estreia prevista para 28 de Dezembro em Portugal.

Zodiac

O mais recente filme de David Fincher (e um dia falarei sobre o facto de três dos cineastas mais sui generis se chamarem David), Zodiac, inspirado na investigação policial para descobrir um serial killer dos anos 70, já tem trailer e ainda por cima em alta definição!

Clique na imagem acima para poder apreciar.

Clichés às resmas!

Qual é a palavra que o português mais gosta logo a seguir a “feriado”?

“Grátis”, pois claro!

E portanto é na onda de agradar a todos os portugueses que vos encaminho para o esgotadíssimo número 4 da Subterranean, co-editado por John Scalzi e totalmente devotado aos clichés da Ficção Científica.

Nele poderão ler ficção de Allen Steele, Jo Walton, Nick Sagan e outros. Agora em PDF grátis!

Iniciou-se hoje e prolonga-se até dia 19 o Fórum Fantástico 2006, este ano na sua segunda edição e contando com a presença de vários escritores nacionais e internacionais com destaque para Christopher Priest, que participa no lançamento do livro O Prestígio, que já foi alvo de adaptação ao cinema.

Visite o site oficial para conhecer o programa detalhado.

http://www.ifilm.com/efp

Para quem gostou de Eraserhead.

Mãe


Mãe, és porto onde me abrigo em dia de tormenta,
Mãe, és farol que pincela de cor a minha noite,
Mãe, és a carícia dedicada do amor sem compromisso.

Serena e calma, sempre com a sombra dum sorriso,
Que deseja saltar para fora da tua face.
Sempre pronta a ouvir-me, sem preconceito.
E quando as lágrimas rolam pela tua face,
Sinto-me, também eu, perdido e triste.

Quando me desassossego, és tu que me guias de volta a mim,
Quando me perco, és tu que me encontras e me pegas na mão.

Mãe, que trazes a vida dentro de ti,
E de ti vem a dádiva duma nova alma,
Mãe, quero em ti perder-me de mimos.

Ilustração de Adrienne Ségur

Dedicado à R.B.

Surreal Social

– É uma bica, se faz favor.
– Lote Platina, ou Congo?
Pausa.
– Pode ser Congo.
– Curta, Italiana, pingada?
Nova pausa.
– Curta… acho.
– Chávena escaldada ou normal?
-Porra, dê-me uma bica!




Sempre tive uma certa dificuldade em escolher entre edições hardcover e softcover. Uma das formas que tenho de ultrapassar essa indefinição é comprar as duas!

O que eu gosto nos hardcovers é a encadernação mais durável, a fonte maior e mais espaçada, o papel de melhor qualidade e o facto de, normalmente, serem editados com uns bons meses de avanço em relação ao softcover.

Já nos softcovers gosto da portabilidade, do menor peso e do menor espaço que ocupam e muitas vezes ainda têm a vantagem de serem edições ligeiramente revistas em relação à primeira edição em hardcover, chegando até a conterem novos prefácios ou posfácios.

Decisões… decisões…


Depois de me ter insurgido contra o preço que considero escandaloso, lá pensei que nada de melhor tinha para fazer com o meu tempo e fui à inauguração da exposição Star Wars no Museu da Electricidade em Lisboa.

Ocupando uma área superior a 2000 m2, o visitante atravessa várias salas que pretendem – não muito convincentemente, na minha opinião – recriar os ambientes de doze planetas do universo Star Wars: Tatooine, Coruscant/Kamino, Naboo, Hoth, Lua de Endor, Mustafar, Estrela da Morte e Geonosis/Utapau/Kashyyyk, são os planetas e satélites recriados nas nove salas. Podemos apreciar nelas cerca de 150 objectos originais, incluindo desenhos, modelos, maquetas, trajes e acessórios, todos usados nos filmes.

Valeu a pena embora tenha sabido a pouco, mas penso que para um fã como eu só mesmo a presença dos actores e de George Lucas, himself, é que me satisfaria por completo.

Quem quiser ver uma pequena galeria de fotos pode clicar aqui.